segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Blog do Leandro Leite entrevista Luiza Erundina, candidata a Prefeita de SP pelo PSOL


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O Blog do Leandro Leite entrevista a Deputada Federal e candidata a Prefeita de SP, Luiza Erundina do PSOL. A ex-prefeita comentou sobre temas como Transporte, Saúde, Habitação, entre outros.

Confira a entrevista abaixo:

1. A cada dia que passa, aumenta os congestionamentos na capital paulista. Como a senhora pode melhorar o trânsito de São Paulo?

A mobilidade urbana é um tema que vai além das soluções pontuais que têm sido adotadas pelas últimas administrações. Somente entendendo essa questão em seu caráter estrutural é que podemos propor respostas realmente transformadoras para a gravíssima situação do trânsito em São Paulo. Em primeiro lugar, e acima de tudo, transporte deve ser enxergado enquanto direito social, da mesma forma que saúde, educação, moradia etc. Dentro dessa lógica, é necessário formular soluções que tenham na garantia efetiva desse direito a todos os cidadãos seu horizonte. Por esse motivo, devemos privilegiar o transporte público, coletivo e ativo (pedestres e bicicletas), tendo em mente que é fundamental incentivar meios de locomoção que não aqueles centrados no automóvel individual e particular. Rever as licitações do sistema de transporte rodoviário é um passo importante para diminuir custos e aumentar a transparência e a eficiência do sistema. Mas não só. É preciso investir na integração e na eficácia dos diversos meios de transporte coletivo e ativo (integrando as ciclovias ao metrô e ônibus, por exemplo), na expansão e eficiência dos corredores e faixas de ônibus, bem como revisar a política tarifária do município, que tanto penaliza a população mais pobre. Para além disso, precisamos combater a própria lógica de segregação socioespacial que impera na cidade, com ampla concentração de emprego, serviços e opções de lazer nas regiões centrais, o que obriga os moradores das áreas periféricas a percorrerem grandes distâncias diariamente para, por exemplo, chegar ao trabalho ou à faculdade.  A política de mobilidade, para ser realmente transformada, também demanda diálogo e planejamento conjunto com as outras cidades da região metropolitana.

2. O monotrilho é de responsabilidade do governo do Estado e as obras estão completamente abandonadas. A prefeitura pode fiscalizar, ou até mesmo cobrar o governador Geraldo Alckmin, já que as linhas seriam dentro da capital paulista, ou a prefeitura não se "mete" nos assuntos do governo do Estado?

São Paulo é a maior e mais importante cidade do estado e do país. Seu peso econômico e relevância política não combinam com uma atitude passiva, seja frente ao Governo do Estado, seja frente à União. Pelo contrário, devemos adotar uma postura altiva, exigindo que promessas sejam cumpridas e interesses sejam atendidos, no sentido do desenvolvimento de nossa cidade e do bem estar de sua população. 

3. Ainda falando sobre transporte público candidata, uma das maiores polêmicas do governo Haddad foram as tentativas de tirar os cobradores de ônibus e aumento nas tarifas. A senhora é a favor ou contra a permanência dos cobradores e como não aumentar a tarifa todos os anos, já que o serviço não é bom e é caro?

Se entendemos o transporte enquanto direito social e desejamos garantir tal direito a todos os cidadãos, não podemos fazê-lo passando por cima dos direitos trabalhistas de milhares de cobradoras e cobradores de ônibus. Desejamos expandir e aumentar a eficiência dos corredores de ônibus e isso implica na realização do pagamento nas plataformas e na eliminação das catracas, o que significa que deve haver realocação funcional dos cobradores, com respeito total a seus direitos trabalhistas. No que se refere à tarifa, é essencial, como já afirmamos mais acima, a revisão das licitações e a auditoria da planilha de custos das concessionárias, visando à ampliação da transparência e da eficiência com diminuição dos custos. Por outro lado, precisamos aumentar  os investimentos do poder público no setor, o que pode ser viabilizado por uma política de justiça tributária com vistas à potencialização dos recursos e à sua melhor distribuição. Encarar o transporte enquanto direito social é assegurar o comprometimento do Estado com seu desenvolvimento de forma democrática, participativa e transparente.

4. Caso eleita, quais serão seus projetos para oferecer melhor qualidade de vida a maioria da população, de modo diminuir a desigualdade entre a região central e as periferias da cidade?

A concentração de recursos, serviços, emprego, equipamentos públicos, transporte, espaços de lazer e assim por diante nas regiões centrais de São Paulo é gritante. Por um lado, essa é uma questão que deve ser pensada no campo econômico. É necessário haver descentralização e potencialização dos investimentos e do gasto público na periferia, e para isso é preciso que haja potencialização dos recursos do município, com justiça tributária, para que aqueles que têm mais contribuam mais, proporcionando ao poder público condições efetivas de estimular o desenvolvimento econômico e social de forma equânime em todo o território da cidade. Por outro lado, é essencial a adoção de uma agenda verdadeiramente democrática e cidadã, que enxergue a política como um lugar de efetiva participação popular, que privilegie as necessidades e demandas locais na definição das políticas públicas, e não apenas os interesses de setores poderosos da sociedade. Precisamos descentralizar a gestão do município e torná-la participativa, como forma de combater a segregação socioespacial.

5. A senhora é a favor do pedágio urbano?

Somos terminantemente contra o pedágio urbano. Encaramos a mobilidade como um direito humano, que pressupõe uma cidade aberta à circulação das pessoas sem a mercantilização dessa circulação.

6. Poucos hospitais foram construídos nos últimos anos. Aqui na zona sul, na região de Parelheiros, está sendo construindo um hospital, depois de muitos anos de promessas pelos ex-prefeitos. Quais são seus projetos para a àrea da saúde?

A situação da saúde na cidade continua desastrosa e parte disso se deve ao desmonte do SUS, que ocorre a passos largos em todo o país. Nosso compromisso é com a defesa intransigente do SUS. Mais especificamente no âmbito do município, isto passa por uma revisão da política de privatização, que dá a organizações que buscam lucro poder demais na gestão da saúde na capital. Saúde não é mercadoria, é direito, e por isso defendemos um SUS público, gratuito e de qualidade, terminando os contratos com o setor privado e reestatizando a gestão da saúde, por meio de um programa de transição que não penalize a população. Precisamos, por outro lado, descentralizar e democratizar a gestão, para que as demandas de cada região sejam melhor e mais prontamente atendidas, assegurando a efetiva participação popular na definição das políticas. Deste modo, propomos descentralização, participação popular, melhor distribuição de recursos e políticas que prezem pela intersetorialidade, pois uma gestão verdadeiramente democrática e eficiente da saúde deve ir  além do tratamento de doenças, precisa focar na prevenção, na assistência social, no saneamento básico, na moradia, na educação, no esporte e no lazer e desenvolver políticas conjuntas que atentem à diversidade das demandas da população da cidade.

7. Qual será sua meta para a descentralização e fortalecimento das subprefeituras?

Descentralizar a gestão pública com efetiva participação popular no processo de formulação e deliberação acerca das políticas e obras públicas é essencial. As subprefeituras precisam, nesse sentido, ter maior autonomia na aplicação de seus próprios recursos. A ação dos subprefeitos precisa estar baseada nas demandas dos territórios, o que torna fundamental a ampliação e fortalecimento dos conselhos locais, com total transparência. A implementação do Orçamento Participativo por meio das subprefeituras, a prestação de contas em âmbito local e a estruturação de uma Secretaria de Descentralização, Participação Social e Prestação de Contas, tendo como prioridade aprimorar a eficiência da resposta do Estado às demandas da população, estão entre nossas propostas.

8. Nesse ano de 2016 a cidade de SP passou por um grande sufoco com a rivalidade que foi criada entre Uber x Táxi. Tivemos muitos protestos dos taxistas para o prefeito Haddad não liberar o Uber, algo que não aconteceu. A senhora é a favor do Uber?

Não é possível simplesmente ignorar as novas tecnologias digitais e as transformações na dinâmica da cidade. O serviço de taxi, regido por legislação antiquada, de 1969, precisa ser revisto e deve haver regras bastante claras  para o funcionamento de serviços como o Uber, que prezem pela segurança, eficiência e respeito aos direitos trabalhistas e aos direitos dos usuários. 

9. Qual é a sua proposta para Habitação?
A moradia precisa ser encarada enquanto direito fundamental do cidadão. O combate à segregação socioespacial e à especulação imobiliária devem ser centrais numa gestão popular, com a descentralização da política de moradia, a partir da criação de escritórios comunitários, e a retomada dos mutirões, incentivando uma lógica de cooperação que altere a dinâmica nefasta de privilégio a grandes interesses econômicos em detrimento das necessidades da população. Nesse sentido, precisamos e uma política que controle e reduza o preço dos aluguéis, exorbitantes na cidade como um todo, preze pela regularização fundiária e pela segurança da posse e dê fim a despejos e remoções forçadas em casos de vulnerabilidade.

10. A ciclovia é um assunto que é muito discutido na cidade de SP. Andando pelas periferias e até mesmo no centro, a gente quase não vê ciclistas usando a ciclovia, e na Praça da Sé, por exemplo, virou espaço para os moradores de rua. Caso eleita, a senhora continuará com as ciclovias?

Nós defendemos ampliar e melhorar a qualidade e segurança das ciclovias. É importante que sejam um meio de transporte alternativo realmente eficiente e a que todos tenham acesso, para isso precisam ser efetivamente inseridas na periferia e integradas a terminais de ônibus e estações de metrô.


11. A senhora foi prefeita de SP à 27 anos atrás. O que eu mais ouço das pessoas dessa época, é de que a sua gestão foi marcada por muitas greves, principalmente de ônibus. Caso eleita, o que a população pode esperar do seu governo?

Enfrentamos muitos desafios naquela época. Herdamos uma cidade praticamente falida e tivemos que trabalhar incansavelmente para realizarmos nosso programa, diante a má vontade e resistência de setores da sociedade que não toleravam uma gestão popular com uma mulher nordestina à frente. Não fizemos tudo que poderíamos e não acertamos sempre, mas considero que fizemos bastante. Municipalizamos o transporte coletivo rodoviário, melhorando a qualidade do serviço, aumentando o número de ônibus e modernizando a frota, implementamos plano de carreira para os professores da rede municipal, aumentando salários e investindo na capacitação, fizemos os mutirões para garantir moradia digna a milhares de paulistanas e paulistanos. Confiamos que podemos fazer muito mais, com uma gestão aberta e transparente, próxima das demandas e reivindicações da população, descentralizada e democrática, mudando essa lógica autoritária e subserviente aos grandes interesses privados que hoje rege o desenvolvimento da cidade e marginaliza as regiões periféricas.

12. Luiza Erundina, o Blog do Leandro Leite agradece por sua participação na nossa sabatina online. Obrigado candidata.

Agradecemos pela oportunidade!

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